segunda-feira, 20 de junho de 2011
Os Estados Unidos podem não ser paradigma em muitos aspectos. Têm flancos, não desistem de uma vocação hegemônica, são acusados de arrogância, prepotência e descaso em relação à miséria que grassa no mundo. Mas há motivos de sobra para que os invejemos. São patriotas. Conhecem a sua Constituição. Sabem cultivar suas instituições. Imprimem à sua infância e juventude justificado orgulho quanto a tradições, nas quais são imbatíveis. Temos quase a mesma idade como Nação.
O que explica eles terem chegado lá e nós estarmos na pré-história da ética? Vejam o episódio do diretor do FMI acusado de assédio sexual. Prisão, fiança de um milhão de dólares, mais garantia de 5 milhões de dólares de que não deixará o país, onde permanecerá em prisão domiciliar. Com um guarda a vigiá-lo, além do controle eletrônico. Não dá inveja? Mas quero falar de outra coisa. Assisti uma homenagem que se prestou aos heróis americanos.
Veteranos da guerra no Japão, na Coréia, no Vietnã, no Oriente Médio, receberam medalhas e carinho da nação agradecida. Impávidos, com lágrimas nos olhos, perfilaram-se todos e prestaram continência à bandeira. Pensei comigo: e os nossos heróis? Quais as pessoas vivas que podemos apontar às crianças e dizer: – Admire-o! Ele é um paradigma! Você tem de ser como ele quando crescer! Quem são nossas figuras públicas?
Quais os exemplos que as atuais gerações estão deixando para aqueles que vierem depois de nós? Temos motivo para comemorar a sétima economia do mundo? Talvez até possamos cultivar personalidades discretas, anônimas, aquelas que perseveram na fidelidade a uma causa. Mas poderíamos congregar uma razoável quantidade de brasileiros merecedora de reverência e a servir de baliza moral para a juventude?
A indigência de nossa vida pública não é uma boa escola para quem inicia a sua vida adulta. Há motivos de sobra para se envergonhar e um acentuado déficit de argumentos para alimentar um orgulho cívico. Quem dispuser de um elenco de brasileiros vivos que possam ser considerados heróis, por favor, encaminhe para mim. Ajudará a afastar o meu desalento.
José Renato Nalini é Desembargador da Câmara Especial do Meio Ambiente do Tribunal de Justiça de São Paulo.